Livro: "A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a dimensão encorberta do sagrado feminino em Portugal"

Nesta obra apresenta a autora o resultado de vários anos de investigação sobre a tradição da Deusa em Portugal, fundamentando a necessidade do resgate dessa espiritualidade antiga centrada numa entidade divina feminina e na própria terra, vista como o Seu corpo, até como garante da legitimação do poder da mulher e de uma eficaz protecção da natureza e de toda vida em geral. Sabemos que durante milénios a Deusa foi cultuada pela humanidade e a lembrança desse tempo permanece na nossa memória colectiva como a Idade de Ouro. Nele prosperaram sociedades centradas na Mãe – pacíficas, igualitárias, sustentáveis – paraísos que com a alteração do paradigma social mudaram de dimensão, estando agora encantados, encobertos por brumas, inclusos. Ao nível do nosso território, essa dimensão é conhecida como o Jardim das Hespérides – nome das antigas Sacerdotisas da Deusa da Hespéria, Ibéria. À semelhança do que acontece com a Ilha de Avalon, a autora encontrou na sua pesquisa as Nove Irmãs que sustêm a energia desse Jardim das maçãs de ouro da imortalidade, com Quitéria no centro, tal como Morgana é central em Avalon, ressaltando a frequência com que grupos de nove mulheres míticas, como as nove Musas gregas, surgem como parte dos mitos fundadores de várias culturas do mundo. Temos assim as oito irmãs de Quitéria, com nomes como Eufémia, Marciana, Vitória, Bazília e outros, que chegaram até nós com ressonâncias gregas, romanas ou claramente célticas, como Genivera; cada uma ocupando o seu lugar na Roda do Ano, lembradas como um grupo ou individualmente, em várias partes do território, com lendas que merecem uma nova leitura à luz do que sabemos que aconteceu em outros lugares do mundo, quando o sistema patriarcal suplantou e para si usurpou o poder religioso das antigas Sacerdotisas da Deusa.
Uma nova luz é lançada igualmente sobre o centro de culto mariano mais frequentado de Portugal, e um dos mais conhecidos a nível global, bem como sobre a entidade divina na origem do verdadeiro topónimo, Cova da Iria. Nesta obra, se faz uma reavaliação da importância desta personagem mítica na cultura portuguesa, do enigma do seu martírio em Tomar, num certo dia 20 de Outubro, quando o bom tempo se despede e o inverno se anuncia.
Foi inspirada pela sua formação de Sacerdotisa de Avalon em Glastonbury, Reino Unido, que Luiza Frazão pôde sentir aquilo que afirmam várias outras autoras e autores sobre as raízes célticas da cultura portuguesa, bem profundas e notórias. Assim, aqui nos são apresentadas Deusas cujo culto foi comum a toda a zona do designado Arco Atlântico, de cultura celta, como Cale, ou Calaica, Cailícia-Beira, que na Irlanda e na Escócia é conhecida como Cailleach-Bheur; Sul ou Sulis; Ana ou Dana; Brígida e Brigântia, na origem a mesma Deusa.
Deste trabalho de pesquisa resultou a criação pela autora de uma Roda do Ano de Cale – Deusa que deu o nome a Portugal, Portus Cale – aqui apresentada, com a energia própria de cada estação e as correspondentes faces da Deusa, assim como os animais totémicos, criaturas mitológicas, árvores sagradas, lugares de poder e tradições com as quais se celebra ainda hoje em dia em Portugal cada uma das oito festividades que marcam o tempo cíclico da Deusa.