Livro: "As Meninas e os Cachorros"

Uma nova travessura aflorou à mente do Cardeal. Reuniu as primas, e quis saber se elas nunca haviam reparado nos cachorros, cuja conduta, à noite, é bastante estranha. Queria saber por quê. Sugeriu às primas que todas se empenhassem para descobrir a causa de esses animais latirem na escuridão sem haver motivo para isso. O que eles veem que nós não vemos? …A maioria delas recusou se envolver nisso, ainda estavam escaldadas com os acontecimentos anteriores, quando, na mata, se viram praticamente nas garras do mapinguari ou nas mãos dos canibais. Além do mais, havia aquela viagem ao mundo das trevas, ainda pouco esclarecida. Apenas Tio Papá e Bubu-Açu se interessaram pelo assunto e prometeram colaborar. As outras pularam fora. Não foi fácil chegarem a uma conclusão. Participar da visão noturna dos cães era tarefa quase impossível. Só com a ajuda de alguém que possuísse poderes especiais. Depois de muita procura, vieram a tomar conhecimento da existência de uma velha bruxa, lá para os lados do Marajó, onde costumavam passar as férias. E as três meninas fizeram um pacto. Nas próximas férias iriam procurar entrar em contato com a feiticeira, caso realmente as feiticeiras ainda existissem. Passaram, pois, a contar os dias, para se enfronharem numa nova aventura. Nem bem viajaram de férias, e as meninas logo começaram a pôr em prática o seu plano. Separadas das primas, procuraram alguém que pudesse lhes dar as indicações que precisavam. Finalmente colheram o que queriam. Sabiam agora onde a bruxa habitava, mas foram alertadas para não se aproximarem do casebre, pois a velha tinha fama de ser muito perigosa. Essa mulher horrenda não gostava de ser incomodada, vivia sozinha e não suportava estranhos. Mas nada disso intimidou as meninas, elas estavam decididas. E numa bela tarde, sem que ninguém percebesse, lá se foram elas em direção à casa da feiticeira.