Livro: "Estudo Biográfico: Lucrezia Marinella"

Lucrezia Marinella foi uma autora veneziana do século XVI, que publicou prolificamente numa série de géneros, principalmente literatura devocional (em prosa e verso) e polémica filosófica. Seu trabalho, La nobiltà et l’eccellenza delle donne, co’ difetti et mancamenti de gli uomini, (ANobreza e Excelência das Mulheres e os Defeitos e Vícios dos Homens), publicado em 1600, foi um dos primeiros tratados polémicos escritos por uma mulher em italiano como parte de um debate em curso sobre a natureza e o valor das mulheres, muitas vezes chamado de querelle des femmes (o debate sobre as mulheres). [1] A Nobreza e Excelência das Mulheres é uma recapitulação erudita dos argumentos e provas apresentados para apoiar as reivindicações de mérito das mulheres, mas é mais do que um resumo. Marinella fornece um argumento coerente e alargado para a superioridade das capacidades intelectuais e morais das mulheres, construindo efetivamente um relato de uma natureza própria para as mulheres e distinta da natureza do homem.A Nobreza e Excelência das Mulheres é notável em vários aspetos, para além da sua habilidade filosófica e retórica. Em primeiro lugar, embora vários dos antecessores de Marinella do lado pró-mulher do debate tivessem argumentado que os homens e as mulheres eram iguais na medida em que partilhavam uma alma racional, e também que as mulheres eram superiores, não tinham conseguido resolver adequadamente a tensão entre as reivindicações de igualdade e de superioridade; Marinella aborda-o direta e persuasivamente. O seu argumento toma os corpos das mulheres como um ponto de partida, do qual ela adutor provas para demonstrar que as personagens morais das mulheres são melhores do que as dos homens, e que a superioridade moral das mulheres conduz a uma superioridade intelectual. Em segundo lugar, Marinella avança que o caso está a ser feito pelas mulheres e pelos seus apoiantes para além de uma exigência de simpatia e respeito dos homens a uma exigência de liberdade, poder e igualdade (Cox 1995, 520). Embora não tenha proposta reformas concretas, analisou a situação das mulheres em termos explicitamente políticos. Em terceiro lugar, apesar de muitos terem decretado a crueldade daqueles que defendiam a inferioridade das mulheres, Marinella foi uma das primeiras a fornecer uma explicação sobre os motivos dos homens que publicaram obras misóginas, e a ligar esses motivos à exclusão das mulheres da vida pública (Jordânia 1990, 259; Cox 1995, 516).