Livro: "Estudo Biográfico: Thomas More"

Thomas More (1478 – 1535) foi um advogado inglês, humanista, estadista e mártir católico, cuja vida paradoxal se reflete nos seus títulos contrastantes: foi cavaleiro pelo rei Henrique VIII em 1521 e canonizado pelo Papa Pio XI em 1935. Nascido numa família mercantil e profissional abastada, foi representante da viva cultura intelectual que tinha evoluído no século XV de Londres e que forneceu uma plataforma para as primeiras manifestações do humanismo. A perspetiva de More foi moldada pelo seu papel legal nos assuntos da cidade, então de longe a maior da Inglaterra com uma população de cerca de 50.000 habitantes, e foi como um representante dos interesses da cidade que foi primeiro atraído para o serviço da Coroa. Este envolvimento com a vida cívica de Londres também desempenhou o seu papel na conceção da Utopia, a sua obra mais conhecida, concluída em 1516. A sua amizade com o académico holandês Desiderius Erasmus durou mais de trinta anos e foi crucial para o desenvolvimento das suas próprias ideias sobre estudos literários, em particular o renascimento do grego, e sobre as possibilidades sociais da educação. Foi graças a Erasmus que foi atraído para as redes literárias do humanismo do Norte. Embora More não possa ser classificado em qualquer sentido formal como filósofo, é nos seus escritos em defesa do humanismo e na Utopia que ele pode ser melhor visto como um expoente de ideias. Nos primeiros anos da sua associação, More e Erasmus partilhavam um interesse crítico em expor as loucuras e abusos da vida contemporânea, nomeadamente em questões de prática religiosa; mas uma vez Mais foi arrastado para as polémicas selvagens da reforma inicial, defendeu a ortodoxia católica com todas as armas à sua disposição. No entanto, os seus esforços foram comprometidos por uma mudança na política governamental. A sua recusa conscienciosa em apoiar a campanha do Rei Henrique para repudiar o seu casamento com Catarina de Aragão levou à sua retirada da vida pública e, em última análise, à prisão. Durante catorze meses na Torre, escreveu uma série de obras devocionais que contrastam com a gravidade dos seus escritos polémicos. Julgado por traição, More foi decapitado a 6 de julho de 1535. A sua morte causou indignação generalizada no Continente, onde inicialmente foi visto como um modelo de integridade, um conselheiro semelhante a Séneca que resistiu a um governante tirânico. O seu estatuto de mártir católico surgiu mais tarde sob a influência da Contrarreforma Inglesa.