Livro: "Mito, religião e política Padre Cícero e Juazeiro do Norte"

Em geral, quando tomamos o mito como um tema a ser refletido, somos remetidos, quase que automaticamente, aos mitos antigos. A nossa cultura greco-romana recebeu muita influência das narrativas míticas. Contudo, uma questão pode nos levar para além do senso comum neste campo: o mito grego, por exemplo, pode ser tido como mito até os dias de hoje? Se tomarmos mito apenas como narrativa, podemos dizer que sim. Essas narrativas atravessaram muitos séculos para se fazerem presentes em nossa literatura atual. Contudo, se partimos da concepção de que o mito só existe enquanto o mesmo “vive e respira”, então precisaremos rever os nosso conceitos. Portanto, precisamos levar à sério a diferença entre mito e lenda, por exemplo. Um mito que permanece apenas em uma narrativa do passado, sem influência nenhuma no presente, pode ser considerado uma lenda (legenda – letra “morta” do passado, algo para ser lido). Sendo assim, não podemos limitar o conceito de mito nos limites de uma narrativa. É nesse contexto que podemos compreender melhor a figura de Padre Cícero e sua atuação em Juazeiro do Norte. Ele assume o papel de padre, coronel, político e santo. Sem nenhuma contradição dentro das narrativas míticas em torno do mesmo. Um santo popular mitificado que continua “vivo” até os dias de hoje. Um sujeito histórico considerado como “enigmático” para o campo da Ciência da Religião, mas emblemático para o campo da religiosidade popular.