Livro: "País Basco: a história turbulenta e o legado da Comunidade Autônoma Basca na Espanha"

Não seria exagero dizer que, para um território geográfico muito pequeno (apenas 20.747 quilômetros quadrados), o País Basco inspirou uma infinidade de estereótipos intensos. Alguns desses estereótipos foram lançados sobre seu povo de fora, enquanto outros foram propagados estrategicamente pelas próprias pessoas. Para uma área tão pequena de terra que abriga apenas 3.000.000 de pessoas, o País Basco é tudo menos pequeno em termos de história, razão pela qual as opiniões sobre seu povo são tão intensas, tão consequentes e tão contraditórias. O povo basco tem sido denominado “o povo que canta e dança ao pé dos Pireneus”, uma descrição que evoca não só a sua localização geográfica, mas também as suas fortes tradições folclóricas. Essas palavras, ditas pelo famoso escritor francês Victor Hugo, enfurecem o povo basco até hoje. Eles também foram descritos pejorativamente como “os aborígenes da Europa”, uma referência ao status antiquíssimo de sua cultura que levou muitas pessoas a fetichizá-los e considerar a sua língua como antiga. Em um tom muito mais elevado, eles também foram considerados os verdadeiros nativos europeus “originais”, as pessoas que estabeleceram os elementos mais prestigiosos e celebrados da cultura europeia.
Embora esses estereótipos mesquinhos tendam corretamente a antagonizar o povo basco, muitos nacionalistas bascos estão ansiosos para cultivar uma imagem de sua cultura como única e separada da Espanha e da França, as nações maiores que engolem seu território e que ameaçam sua autonomia. Os nacionalistas bascos estão ansiosos por apontar para a rica tradição de arqueólogos, políticos, antropólogos, nacionalistas e folcloristas que cresceram com sua cultura. Eles abraçaram seu status como os mais velhos povos europeus sobreviventes e celebraram sua língua, o euskera, como uma das línguas faladas mais antigas do mundo, uma língua não indo-europeia que pode se gabar de não ter nenhuma outra língua relacionada.
Ao mesmo tempo, embora o País Basco pareça ser comumente usado como sinônimo de tudo o que é antigo, é importante ter em mente que os bascos estão há muito tempo na vanguarda da história e da cultura europeias, para não mencionar o comércio. Durante as guerras contra o califado islâmico durante a Reconquista espanhola, os reis bascos muitas vezes lideraram o ataque contra o inimigo. Foi um capitão basco, Juan Sebastian de Elcano, o primeiro a dar a volta ao mundo. Além disso, Bilbao – uma cidade importante do País Basco – não é apenas o berço do nacionalismo basco, mas também do socialismo espanhol. Além da política, o País Basco é responsável pelo início da revolução industrial na Espanha, graças às suas minas de ferro. Acrescente-se a isso o fato de alguns dos melhores escritores da história literária espanhola, Miguel de Unamuno e Pio Baroja, virem do País Basco, sem falar no legado político deixado por Henrique III de Navarra, que se tornou Henrique IV da França, e trouxe uma era de paz religiosa para a França durante a dinastia Bourbon.