Livro: "Religião: Dominação e Opressão : Vol. I"

A proposta da obra é oferecer referências não só válidas, mas também reflexivas a respeito do papel das religiões no mundo atual, questionar a sua ânsia por dominação e considerar a opressão promovida por elas. A Igreja Católica e outras denominações religiosas têm aumentado não só seu poder econômico, mas também sua margem de atuação no âmbito político, tentando impor sua agenda moral à sociedade como um todo. Vamos tentar entender porque as religiões organizadas provocam a separação entre as pessoas, semeando a intolerância, a desunião e o conflito no meio social.
Através de frases curtas, citações e perguntas que promovem a reflexão, o leitor é levado a ponderar sobre o que é bom para todos, empregando aquilo que lhe é inerente: a razão. Em várias páginas podem ser encontrados três símbolos de interrogação (???), indicando que se está diante de um questionamento apesar de ser uma afirmação, pois o que se quer é a ponderação.
O livro adota um enfoque cético mas que é racional e positivo, que além de procurar manter a mente aberta, parte da premissa de que fazer o bem aos seres vivos, não lhes fazer o mal e não lhes prejudicar, depende também de não promovermos a dúvida e a incredulidade irracionais com propósitos gananciosos. Afinal, respeitar a dignidade do outro também é prezar a sua inteligência.
São propostas inúmeras questões, por exemplo:
– O conjunto de princípios e dogmas forma as crenças que os devotos de certas tradições religiosas possuem e que sedimentam a sua fé. Estes princípios religiosos geralmente prometem segurança e conforto diante dos desafios da vida, de maneira que os seus adeptos mantenham as mesmas crenças ao longo da vida. É comum que a comunidade de devotos compartilhe uma série de valores e crenças formando um conjunto de “verdades irrefutáveis” aceitas pela maioria dos seus membros, mas não se deve naturalizar atitudes baseadas na discriminação, intolerância ou qualquer outro tipo de violência em relação aos que seguem outro caminho.
– Certas religiões são frequentemente utilizadas como autoridades para a justificação e descrição do gênero binário. Assim, várias sociedades desde os primórdios da sua existência têm utilizado o gênero binário para dividir e organizar as pessoas, principalmente as mulheres têm sido vítimas da dominação e opressão religiosas. De fato, vivemos numa época onde as altas cúpulas de quase todas as religiões ainda podem se dar ao luxo de ironizar a suposta inferioridade intelectual das mulheres, para justificar a recusa em ordená-las para posições dentro da organização religiosa que são exclusivamente masculinas.
– Seria perfeitamente possível a existência de um Estado laico com a participação política de religiosos, inclusive nos cargos eletivos? Por que eles cederiam terreno, tendo em vista o grau de influência por eles obtido? Seria possível a coexistência entre representas do povo sem vínculos religiosos e de representantes presos a uma agenda moral religiosa? Se sim, certamente não estaria livre de turbulências, principalmente em um mundo marcado pelo multiculturalismo e pela diversidade de tradições religiosas convivendo no mesmo espaço social?
São reflexões como essas que vamos encontrar a cada página, que pretendem questionar as nossas convicções. O que se quer, é que pensemos por nós mesmos e não como o autor pensa. Trata-se de uma excelente oportunidade para exercitarmos a dúvida saudável, que leva ao esclarecimento daquilo que é potencial ou inegavelmente nocivo.