Livro: "Cobra de Duas Cabeças"

Os poemas e visuais de Humberto Henriques atingem agora uma boa proporção de sua criação estética. O poeta trabalha a fotografia e alguma recriação, sempre a partir e dados de computador que podem ser transformados, sempre de acordo com a elaboração expressionista que anda à socapa nesses modelos experimentais que o autor conseguiu transpor para a poesia. Cobra de Duas Cabeças me pareceu um livro mais espontâneo e livre de responsabilidades sobre a transformação da palavra e da imagem para a construção da obra citada. Todos os visuais de Henriques divergem entre si, não há um livro que seja semelhante ao anterior ou ao seguinte, justamente porque os recursos de computação gráfica utilizados estão sempre em constante atividade de mutação. Por isso, a diferença entre os textos e seus mais íntimos desenhos. Se nada se repete, o experimentalismo também estaria em constante transformação. Sendo assim, as etapas anteriores do experimento acabam por se tornar prática de utilização simples e rotineira dentro de uma proposta de Arte da mais pura raça e qualidade. De alguma maneira temporal e mesmo espacial, esse livro novo de visuais parece inaugurar um novo evento na obra henriquiana. Como seria mesmo inesperado para um autor desse naipe, Henriques acabou de publicar nesse mesmo elenco de poesia e ficção um livro aberto de ensaios sobre a sua obra. São mil páginas, qualquer coisa em torno disso, que versam sobre toda a sua obra pulicada pela amazon.com/kindle. Era mesmo necessário que o autor fizesse isso, fator que faculta alguma facilidade de encontro e interpretação de certos detalhes dentro de uma obra assim extensa. Portanto, a se pensar que aqui há um divisor de águas, esse é o primeiro compêndio que surge após essa averiguação de que o poeta e romancista se deixou levar pela conversa desse que vos fala, Honorico de Bulhões, e transportou para um livro solo toda a sua participação na Literatura Universal. Não cremos, de forma alguma não cremos, porém, que aqui esse divisor de águas seja um elemento de qualificação ou estruturação da obra como um todo. Porque, a dizer o fato real, o autor continua a produzir e no momento escreve dois romances distintos. Cobra de Duas Cabeças é um livro trabalhoso e que busca, propositalmente, o conjugado da fotografia e obtenção de recursos diversificados de computador, de tal maneira que cada poema é simplificado ao máximo na sua estrutura para ser trabalhado continuamente, elemento que demanda tempo para a construção de cada página. A busca das cores esmaecidas e com aspecto de lona, como se fosse pintura em tela grosseira, também é sempre proposital. Se de vez em quando supura a utilização da cor e ela exubera, isso acontece também porque não foi possível retirar da construção aquela oferta de luz que acabou por transbordar. Sendo assim, o livro é um fascinante objeto de busca de um visual diferenciado e elegante, sem nenhum exagero que motivasse a perda desse tom de pastel cru da tela, depois, a associação das cores desmaiadas que fazem par com o conjunto adotado. Do ponto de vista de densidade gráfica, o livro é carregado, pesado, mas nada que em dias de tecnologia hodierna não possa ser suplantado como fator de dificuldade maior. Portanto, alguns são detalhes técnicos necessários aqui. Do ponto de vista absolutamente estético, esse livro suplanta algumas outras criações imagéticas ou visuais do poeta. Essa busca constante da poesia concentrada em seu grau maior acaba por deslindar as novidades que são buscadas. Algumas acabam por serem encontradas por acaso. Temos quase certeza disso. Outras são cinzeladas a cada passo dado, são reelaboradas de comum acordo com a necessidade de aperfeiçoamento do resultado, de tal sorte que ao totalmente dependentes da capacidade e sensibilidade do poeta. Em alguns visuais, a palavra se perde porque está apagada ou esmaecida. Mas isso também parece ser proposital. Há muitos meios para que isso não aconteça, do ponto de vista de técnica operacion