Livro: "A Virada Transcendental de Gustav Shpet"

A interpretação de Shpet da fenomenologia de Husserl causou perplexidade devido à falta de clareza com que ele trata a virada transcendental em Aparência e Sentido (1914). Sugiro que encontremos uma discussão mais abrangente sobre o tema no artigo de Shpet de 1917, “Sabedoria ou Razão?” Lá, Shpet reage ao tratamento de Husserl de um conjunto de problemas relacionados à transição deste último para idealismo transcendental. Li “Sabedoria ou Razão?” não só em relação ao artigo de 1911 de Husserl, mas também à sua série de palestras de 1907 “A Ideia da Fenomenologia”. Minha análise da fenomenologia de Shpet revela que ele seguiu com a virada transcendental, embora sua filosofia tenha se desenvolvido em uma direção diferente do idealismo transcendental de Husserl. Shpet postula uma consciência coletiva, na qual o significado-constituição ocorre, e descobre a “palavra” como base para qualquer cognição. A fenomenologia de Shpet permanece ontológica, pois ele considera a linguagem ou a cultura como a “forma de ser” na qual os seres humanos vivem. Em “Sabedoria ou Razão?”, Shpet argumenta que podemos ter conhecimento direto dessa realidade significativa: o ser não é “representado”, mas “apresentado” em uma palavra. Existe, portanto, certa compatibilidade entre a fenomenologia da realidade cultural de Shpet e a busca de Husserl pela validade absoluta do conhecimento.